A luz dentro de nós
Educar de forma consciente pode nos ajudar a colocar luz em partes de nós que estavam esquecidas.
Uma das formas de se fazer isso é vivenciando, com as crianças, as festas e os momentos do ano.
A festa da lanterna é um ritual de celebração da luz que carregamos conosco.
Ela acontece no outono, quando os dias já estão bem mais curtos.
Ela é uma continuação da festa de São Miguel. Enquanto em São Miguel trabalhamos e desenvolvemos força e coragem internas pra vencer os desafios da vida. Na festa da lanterna celebramos o encontrar essa luz como guia dentro de nós.
Com as crianças, você pode repetir a seguinte frase todos os dias ao acordar ou no café da manhã. Na época de São Miguel: “na minha casa vou entrar, força e coragem eu vou encontrar.”
Na época da menina da lanterna: Na minha casa eu vou entrar, uma luz brilhante vou encontrar.”
A lanterna nos lembra da luz que carregamos dentro de nós, que nos ajuda a passar pela escuridão. Aqui, o que está fora é como o que está dentro. Então o convite é buscarmos o caminho interior para passarmos com “nossa lanterna acesa” pelas escuridões que a vida nos apresenta em suas diferentes fases.
Quanto mais conectadas estamos com nós mesmas, menos a escuridão de fora nos “atinge”.
Essa luz interna é nossa chama trina, a chama do chackra cardíaco onde sabedoria e poder estão a serviço do amor.
Às vezes, com a comercialização e a correria do dia a dia, a gente esquece que essas festas são rituais pra alma.
Elas trazem símbolos, ritmo e conteúdo anímico que trabalham na nossa alma uma imagem arquetípica.
Essa é a da menina da lanterna, sua história traz a busca pela luz consciente que podemos desenvolver em nós quando temos o pensar, sentir e agir alinhados, trabalhando em harmonia.
Cada elemento na história traz uma representação arquetípica. O fogo, por exemplo, é o componente da transformação, da luz crística da consciência, da conexão divina que não vem através de uma busca rápida e fugaz mas através do caminhar consciente na sua jornada.
Ela é a luz que guia nosso caminhar pela vida com consciencia. É individual e deve ser cuidada por cada um que a carrega.
O pensar vem no arqupétipo da fiadeira. Não um pensar lógico-racional, mas aquele que tece a teia da vida e do destino.
O agir vem na figura do sapateiro que, através da sua vontade, materializa-a em algo concreto.
A menina nos traz o sentir - a conexão do sentir com essa força que ilumina de dentro pra fora.
“A Menina da Lanterna”
Era uma vez uma menina que carregava alegremente sua lanterna pelas ruas.
De repente, chegou o vento e, com grande ímpeto apagou a lanterna da menina.
– Ah! – exclamou a menina.
– Quem poderá reacender a minha lanterna? Olhou para todos os lados, mas não achou ninguém. Apareceu, então, um animal muito estranho, com espinhos nas costas, de olhos vivos, que corria e se escondia muito ligeiro entre as pedras. Era um ouriço!
– Querido ouriço! – exclamou a menina.
– O vento apagou a minha luz. Será que você não sabe quem poderia acender a minha lanterna? E o ouriço disse a ela que não sabia, que perguntasse a outro, pois precisava ir para casa cuidar dos filhos.
A menina continuou caminhando e encontrou-se com um urso, que se movia lentamente. Ele tinha uma cabeça enorme e um corpo pesado e desajeitado, grunhia e resmungava.
– Querido urso – falou a menina.
– O vento apagou a minha luz. Será que você sabe quem poderá acender a minha lanterna? E o urso da floresta disse a ela que não sabia, que perguntasse a outro, pois estava com sono e ia dormir e repousar.
Surgiu então uma raposa, que estava caçando na floresta e se esgueirava no capim. Espantada a raposa levantou seu focinho e, farejando, descobriu a menina, e mandou que voltasse para casa, porque sua presença espantava os ratinhos.
Neste momento, surgiram estrelas, que lhe disseram para ir perguntar ao Sol, pois ele, com certeza poderia ajudá-la. Depois de ouvir o conselho das estrelas, a menina criou coragem para continuar o seu caminho.
Finalmente chegou a uma casinha, dentro da qual avistou uma mulher muito velha, sentada, fiando sua roca. A menina abriu a porta e cumprimentou a senhora:
Bom dia, querida vovó! – disse ela.
Bom dia! – respondeu a velha.
A menina perguntou se ela conhecia o caminho até o Sol e se queria ir com ela, mas a velha disse que não podia acompanhá-la porque fiava sem cessar, e sua roca não podia parar. Pediu apenas que a menina comesse alguns biscoitos e descansasse um pouco, pois o caminho era muito longo. A menina entrou na casinha e sentou-se para descansar. Pouco depois, pegou sua lanterna e continuou a caminhada.
Mais adiante encontrou outra casinha no seu caminho: a casa do sapateiro. Ele estava consertando muitos sapatos. A menina abriu a porta e cumprimentou-o. Perguntou, então, se ele conhecia o caminho até o Sol e se queria ir com ela procurá-lo. Ele disse que não poderia acompanhá-la, pois tinha muitos sapatos para consertar. Deixou que ela descansasse um pouco, pois sabia que o caminho era longo. A menina entrou e sentou-se para descansar. Depois, pegou sua lanterna e continuou a caminhada.
Bem longe, ela avistou uma montanha muito alta: “Com certeza, o Sol mora lá em cima!” – pensou a menina, e pôs-se a correr, rápida como uma corsa.
No meio do caminho, encontrou uma criança que brincava com uma bola. Chamou-a para que fosse com ela até o Sol, mas a criança nem respondeu, preferiu brincar com a bola e afastou-se, saltitando pelos campos.
Então, a menina da lanterna continuou sozinha o seu caminho. Foi subindo pela encosta da montanha. Quando chegou ao topo, não encontrou o Sol.
Vou esperar aqui até o Sol chegar – pensou a menina, e sentou-se na terra.
Como estava muito cansada de sua longa caminhada, seus olhos se fecharam, e ela adormeceu. O Sol já tinha avistado a menina há muito tempo. Quando chegou a noite ele desceu até a menina e acendeu a sua lanterna.
Depois que o Sol voltou para o céu, a menina acordou.
Oh! A minha lanterna está acesa! – exclamou, e com um salto pôs-se alegremente a caminho.
Na volta, reencontrou a criança da bola, que lhe disse ter perdido a bola, não conseguindo encontrá-la por causa do escuro. As duas crianças procuraram então a bola. Após encontrá-la, a criança afastou-se alegremente.
A menina da lanterna continuou seu caminho até o vale e chegou à casa do sapateiro, que estava muito triste na sua oficina.
Quando viu a menina, disse-lhe que seu fogo tinha apagado e suas mãos estavam frias, não podendo, portanto, trabalhar mais. A menina acendeu a lanterna do artesão, que agradeceu, aqueceu as mãos e pôde martelar e costurar seus sapatos.
A menina continuou lentamente a sua caminhada pela floresta e chegou ao casebre da velha. Seu quartinho estava escuro. Sua luz tinha se consumido e ela não podia mais fiar.
A menina acendeu novamente a luz e a velha agradeceu, e logo sua roda girou, fiando, fiando sem cessar.
Depois de algum tempo, a menina chegou ao campo e todos os animais acordaram com o brilho da lanterna. A raposinha, ofuscada, farejou para descobrir de onde vinha tanta luz. O urso bocejou, grunhiu e, tropeçando desajeitado, foi atrás da menina. O ouriço, muito curioso, aproximou-se dela e perguntou de onde vinha aquele vaga-lume gigante.
Assim a menina voltou feliz para casa.