O reencontro com a gente mesma


A gente começa a se perder aos poucos. Um dia esquece de pentear o cabelo, no outro, do beijo de bom dia. Esquece de comer ou come muito e rápido sem nem perceber. A correria do diária atropela a gente sem dó e os acontecimentos por vezes se tornam enxurradas levando nossos planos por água abaixo. Chega uma hora que a gente nem sabe quem é. Parece que alguém deu um pause na nossa vida e a gente só vai seguindo; vivendo a vida dos outros, para os outros.
Um dia, você se olha no espelho ou em uma foto e se depara com alguém que não é você. Mas é. E você se pergunta, o que aconteceu? Como vim parar aqui?

O bom é que, se a gente quiser e fizer por onde, aos poucos a gente vai voltando a si. É na volta do ritual de passar protetor de manhã , creme depois do banho. Na vontade de um jantar a dois ou meditar antes de dormir. Talvez colocar uma roupa diferente, experimentar. Começar um novo hobbie, iniciar a leitura de um romance...

É nas pequenas coisas que a gente se perde e é nas pequenas coisas que a gente se reencontra.
Na verdade, se a gente parar pra pensar, é nas pequenas coisas que a vida acontece. Que a gente aprende a amar, que a gente faz um amigo. É no sorriso encabulado cúmplice do olhar insistente; nas acordadas da madrugada quando você, meio dormindo, pega aquele corpinho tão leve e tão imenso ao mesmo tempo. É na vontade de contar mais.

A vida, meus amores, não é feita das grandes coisas e dos grandes feitos. Essa danada se faz escondida, na calada da noite, nas entrelinhas dos dias que não se recusam a passar. É no cheiro de chuva no sábado de manhã e naquele silêncio de alívio durante o abraço de desculpas. É no firmar do primeiro passo que começa longa caminhada, no encorajamento a cada queda que a gente aprende a levantar. Grandes feitos são uma coleção de pequenas vitórias. E é nas pequenas coisas que a gente constrói uma vida inteira. É nelas que a gente deve colocar nossa presença, nossa atenção e nosso coração.

Desejo que a gente consiga cultivar o cuidado com a gente e com os outros, que a gente reconheça a beleza daquilo que quase ninguém vê mas que está lá, todos os dias, fazendo a gente ser quem é, nos ajudando a ocupar nosso lugar no mundo.

Anterior
Anterior

Entre irmãos

Próximo
Próximo

"Ow, tadinho. A porta bateu em você? Oh porta feia."