"Ow, tadinho. A porta bateu em você? Oh porta feia."

A criança vem chorando porque bateu a cabeça na porta. "Ow, tadinho. A porta bateu em você? Oh porta feia." Vocês já ouviram alguém fazendo isso com uma criança? O que tem de errado com essa frase?

1- tira a responsabilidade e coloca a culpa do que aconteceu no outro (no caso, a coitada da porta). Isso não ensina a criança que ela tem corresponsabilidade sobre o que acontece com ela. Pelo contrário, a coloca num lugar de certa, daquela pra quem portas e paredes precisam se desviar. Não a ensina que ela tem poder e influência sobre o que acontece com ela, sobre o que a machuca.

E 2- coloca a criança no lugar da coitadinha, indefesa, vítima. Essa ideia desempodera, a deixa num lugar de passividade "oh pobre de mim que aconteceu isso comigo". E isso não serve agora e não servirá em nenhum momento da vida dela.
Ah Ana, que exagero. Nem é tanto assim. Então conta pra mim aí, nos dedos é uma mão, quantos adultos você conhece que assumem a responsabilidade pra si sem culpar os outros e entendem que podem todos os dias mudar o rumo da sua vida através das suas próprias ações?

O que você poderia fazer de diferente?
1- VALIDAR E ACOLHER o sentimento da criança. "Ow meu amor, você machucou? Puxa, imagino como deve estar doendo. Quer um beijinho?"
2- ESCUTA ATIVA - pergunte o que aconteceu e confirme seu entendimento. "Ah, você bateu a cabeça na porta?" Aqui em casa, às vezes só falar isso já melhora o choro.
3- PERGUNTA CURIOSA - "O que você acha que poderia fazer pra isso não acontecer de novo?" Isso incentiva a criança a pensar. No início, ela não vai conseguir pensar em respostas e tudo bem. É um exercício que a ajuda a buscar soluções pros seus próprios problemas. Você também pode sugerir "que tal da próxima vez pular aqui, onde não tem porta? Ou empurrar a porta antes de pular?"

Cada uma dessas etapas é uma ferramenta da disciplina positiva que pode ser usada separadamente ou em conjunto. E tudo bem se você não acertar de primeira. Também é um treino pra gente.

Não é sobre o que acontece na nossa vida. É sobre o que a gente o que a gente faz com isso. Essas habilidades precisam ser ensinadas às crianças desde sempre. E a responsabilidade é nossa.

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